segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O CURSO DAS HORAS


                                     Para o poeta Edson Bueno de Camargo 

meu lirismo
dissipou o curso das horas
e meus sonhos navegantes
foram de encontro ao mar

os horizontes sutis
que estão em meus pensamentos
tornaram-se estribilho
dos poemas que nunca fiz
descolorindo a tinta da pintura
quebrando vasos de porcelana
perdendo-se no curso das horas
horas inteiras!

e os poemas me perturbam
suplicando por serem escritos
me consumindo...

a nitidez de meus pensamentos
com exatidão
é algo que não verei no papel
com meu olhar interior

poemas eternos que não tem fim
ora tristes, as vezes alegres
contemplam-me em vida e essência
tão nítidos
mas se perdem no curso das horas
escondendo minha realidade
a estampa viva do que sinto e sou...

MÓRBIDA ESCULTURA

o que me interessa
é o interior
desta escultura que agora
tão mórbida, no caos se vai
na precedência do curso dos séculos
e permanece estável em movimentos giratórios
de rotação e translação

o que me interessa está dentro
o que se vê do lado de fora
não serve pra vida, não agrada

me entristece em saber
que um dia foi mais bela
com verdejantes bosques
e a essência da vida na sua maneira simples
apesar de surgir do caos
e da forma abstrata...

ainda existem mistérios não revelados
possibilidade que transcende o tempo
há talvez flores silvestres
neste lado oculto que desconheço
mas ainda há um espaço vago nos pensamentos..

é preciso transcender o que está fora
para que possa surgir o que está dentro.

Ederson Rocha

ETERNO MOVIMENTO

tudo se eleva ou cai
tudo oscila
tudo está em movimento

o movimento dos ventos
o movimento das marés
nada é estático
tudo se movimenta
até mesmo um pensamento
até mesmo um ideal
nunca fica no mesmo lugar

tudo isso constitui
as engrenagens que movimenta a humana máquina
no pequeno instante da vida
o eterno movimento é silêncio
e o silêncio a ilusão mais real
neste horizonte sem fim

Ederson Rocha

CHUVA...

a chuva lá fora cai
e no meu coração eu sinto
que a vida ainda existe
(por que ela não só existe com o que está fora)
quando a natureza se revela...

lá fora a chuva cai
e o silêncio da noite
vem demonstrar o som das coisas dispersas
dos sonhos perdidos
no céu encoberto
do meu silêncio
e eu não o alcanço!

não tenho o sol
tenho a chuva no meu silêncio
que se renova
num dia de chuva lá fora...

busco a plenitude da alma
e ao ver o que apenas sinto
tão logo se faz
um misto de alegria e tristeza
de ganho e perda
caminhos incertos
nos vestígios do passado,
uma idéia presente revela esperança
mas busco o silêncio
a voz que não se houve
no vago sentido vazio...
lá fora
pingos d’água
e no fundo de meu ser
sonhos e frases reticentes
pensamentos a pintar na alma
o que de humano já não seria
mas o silêncio que busco
se faz apenas de fragmentos
da minha incerta idéia de viver.

Ederson Rocha

BEATRIZ

A poesia nasce
cresce e se manifesta
ah, se teus olhos falassem
se tua essência se expressasse
e se o mundo fosse mais colorido...

Deita sobre o meu peito solitário
derrama tua natureza ao redor
aproveita tua infância sublime
pois eu como pai me aqueço com teu amor.

Fonte pura de inocência,
sou eu tua fortaleza?
Sou acaso teu herói?
Sou apenas quem se deslumbra
no arco-íris colorido do teu mundo,
não me culpo de sua existência
neste mundo cinza mar de erros
tu és flor que renova meu jardim
é estrela que de tempos em tempos
me renova e me conquista!

Deita sobre o meu peito solitário
e horizontes de felicidade irei te apontar
contemplando o cenário da existência
a viver minha posição de pai,
és o próprio amor
que me renova e me inspira
a ver a ternura em teus olhos resplandecer...

Infelizmente o mundo que te espera é tão cinza
e vai descolorir aos poucos este brilho inocente,
mas que tenha com você
um pouco da semente que há em mim
e procure transformar
tudo que há de real em teu coração
pois esta é a estrela que sempre brilha
e num breve suspiro...

Mantém a vida em seu curso.

Ederson Rocha

ARCADISMO

na necessidade de algo
vívido e manifesto
escrevo versos

semelhante arcadismo
escrevo versos pela chuva
pelo sol que se põe
e hoje tão forte


escrevo numa tarde de sol
tarde em que há vida
crianças correndo na rua
talvez atrás de um sorveteiro
e na falta de um sorvete

escrevo um poema
buscando aliviar-me do calor

vai entender poesia
é tudo sem pé nem cabeça


Ederson Rocha